Paranavaí

“Abril Azul” trás à tona importância da conscientização sobre o Autismo

“Tenho 50 anos e, seis anos atrás, fui diagnosticada com síndrome de Asperger, uma forma de autismo. Como no caso de muitos outros pais ao redor do mundo, comigo isso ocorreu após o diagnóstico do meu filho. Se não fosse por isso, teria passado o resto da minha vida sem saber por quê me sentia tão diferente. Ainda criança, parecia que todo mundo menos eu havia recebido um manual sobre como se comportar ao redor de outras pessoas. 

Me sentia mais confortável com os animais. Como eu me saía bem nos estudos e mascarava minha ansiedade, eu não chamava atenção – as pessoas achavam que eu era simplesmente tímida.
Quando meu autismo foi identificado, foi como se eu tivesse tirado do corpo um espartilho que eu sequer sabia estar usando. Agora eu entendo que tenho um cérebro que processa informação sensorial e social de forma diferente em relação à maioria das pessoas. Posso cuidar melhor de mim, gerenciando minha energia social e evitando o excesso de (estímulos) sensoriais. Encontrei um senso de identidade.

O mais importante é que o diagnóstico enriqueceu minhas relações pessoais e fez de mim uma mãe mais confiante. Meu filho e eu temos um elo especial; ele me deixa orgulhosa todos os dias”.

(Fonte:https://www.bbc.com/portuguese/geral-43549847)

Este é o relato de uma funcionária pública irlandesa chamada Maura. E, apesar de parecer uma história de filme ou algo muito distante, muitos detalhes desta história fazem parte da vida de milhares de pais e mães ao nosso redor. Mas, por quê falar sobre isso? A resposta é simples: Autismo não se cura, se compreende! 

Abril Azul – Estabelecido pela Organização das Nações Unidades (ONU), abril é o mês de conscientização sobre o autismo e visibilidade ao TEA (Transtorno do Espectro Autista). Através da campanha Abril Azul, várias ações são desenvolvidas ao redor do mundo para envolver a comunidade no assunto. A cor azul foi escolhida pelo fato, ainda não explicado cientificamente, de que o autismo atinge muito mais os meninos do que as meninas.

Em 2007, a ONU decretou ainda a data de 2 abril de o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Nesta data, vários cartões postais do mundo são iluminados de azul para chamar a atenção da sociedade para o tema, como o Cristo Redentor (Brasil), o Empire State (EUA), a CN Tower (Canadá), a Torre Eiffel (França), as pirâmides do Egito e outros monumentos.

A partir do novo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), publicado em 2013, o Transtorno Autista passou a ser incluído no diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), juntamente com a Síndrome de Asperger, o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento e o Transtorno Desintegrativo da Infância. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que uma em cada 160 crianças no mundo tem TEA, o que representa cerca de 70 milhões de pessoas. No Brasil, um estudo-piloto estima que tenhamos 1 autista para cada 367 habitantes, o que pode representar um número de mais de 2 milhões de pessoas com TEA no país.

O autismo – O autismo, cujo nome técnico oficial é o Transtorno do Espectro Autista (TEA), é uma condição de saúde caracterizada por déficit na comunicação social (socialização e comunicação verbal e não verbal) e no comportamento (interesse restrito ou hiperfoco e movimentos repetitivos). Há muitos subtipos do transtorno, tanto que se usa o termo “espectro” devido aos vários níveis de suporte que cada indivíduo do TEA necessita – existem desde pessoas com outras doenças e condições associadas (coocorrências), como deficiência intelectual e epilepsia; até pessoas independentes, com vida comum.

Ainda alvo de estudos, as causas do autismo são identificadas com majoritariamente genéticas. Atualmente, existem 1.031* genes já mapeados sendo estudados como possíveis fatores de risco para o transtorno (*número atualizado em março de 2022).

Alguns sinais de autismo podem aparecer a partir de um ano de idade, ou até antes, em casos mais graves. Entre os sinais mais comuns estão:

– Não manter contato visual por mais de 2 segundos;

– Não atender quando chamado pelo nome;

– Isolar-se ou não se interessar por outras crianças;

– Alinhar objetos;

– Ser muito preso a rotinas a ponto de entrar em crise;

– Não brincar com brinquedos de forma convencional;

– Fazer movimentos repetitivos sem função aparente;

– Não falar ou não fazer gestos para mostrar algo;

– Repetir frases ou palavras em momentos inadequados, sem a devida função (ecolalia);

– Não compartilhar seus interesses e atenção, apontando para algo ou não olhar quando apontamos algo;

– Girar objetos sem uma função aparente;

– Interesse restrito por um único assunto (hiperfoco);

– Não imitar;

– Não brincar de faz-de-conta;

– Hipersensibilidade ou hiper-reatividade sensorial.

É muito importante que o tratamento para o TEA seja iniciado o quanto antes, com intervenções comportamentais (aplicadas por psicólogos) e outros tratamentos interdisciplinares individualizados, como fonoaudiologia, terapia ocupacional, etc. Quanto antes começarem as intervenções, maiores são as possibilidades de melhorar a qualidade de vida do indivíduo.

TEA em Paranavaí – Um levantamento feito pela Secretaria Municipal de Educação mostra que, atualmente, Paranavaí tem 91 alunos, com idades entre 2 e 11 anos, laudados com TEA e matriculados na rede municipal de ensino. Destes 91 alunos, 32 são crianças matriculadas nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) e 59 nas escolas municipais.

Além disso, aproximadamente 16% das crianças e adolescentes (com idades entre 0 e 19 anos) atendidas no CAPS Infantil são pessoas do TEA. “Hoje, nós temos 1.878 crianças e adolescentes em atendimento no CAPS-i. Destes, aproximadamente 300 são pacientes de TEA. E estamos falando apenas de números de pacientes atendidos aqui no CAPS-i. O universo de autistas em Paranavaí é bem maior, considerando aqueles que fazem tratamentos particulares, ou no CRE, os adultos que não são tratados aqui, aqueles que ainda não são diagnosticados e aqueles que não aceitam tratamento”, explica a coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Infantil, Renata Kimura. 

Segundo a coordenadora do CAPS-i, “hoje muitos adultos que antigamente eram taxados como crianças estranhas, birrentas, estão sendo diagnosticados com autismo. Tiveram todo um sofrimento por desconhecimento e falta de atenção do transtorno. Historicamente, nós passamos períodos em que uma doença é aquela marca uma geração. Até pouco tempo, a depressão era o ‘mal do século’. Agora, temos sentido que a dificuldade da vez é o autismo. Não é que nunca tivemos o autismo na nossa sociedade, mas agora existem especialistas no assunto e as pessoas enxergam essa dificuldade com outros olhos”.

Em Paranavaí, o atendimento a pessoas do TEA no CAPS-i começou com a formação de grupos terapêuticos no ano de 2018. A porta de entrada para os atendimentos no município são as Unidades Básicas de Saúde (UBSs). “É no posto de saúde que é feita a primeira identificação dos sinais e sintomas sugestivos do TEA. Os médicos aplicam um questionário com a família com umas escala de avaliação chamada M-CHAT (The Modified Checklist for Autism in Toddlers). É um questionário de rápida aplicação que ajuda na triagem destes pacientes, de acordo com uma pontuação pré-estabelecida. A partir daí, esse paciente é encaminhado para os atendimentos específicos no município. No caso de crianças e adolescentes, este acompanhamento é feito aqui no CAPS-i. Aqui, as crianças são acompanhadas com o psiquiatra e podem participar, de acordo com a aceitação, de oficinas de teatro, artesanato e movimento (Educação Física). Em paralelo, as mães/pais participam de palestras com psicólogos, que ajudam a família no entendimento do transtorno, no esclarecimento de dúvidas com relação aos desafios diários de cada caso”. 

E para quem quer entender o que é, afinal de contas, uma pessoa autista, é importante pensar que, essencialmente, ela é uma pessoa que convive com um transtorno, um desafio extra na sua jornada. É uma pessoa única, singular, com suas particularidades, assim como todas as outras que encontramos por aí. Qualquer autista, assim como qualquer pessoa considerada neurotípica, tem um universo inteiro de possibilidades e um longo caminho de aprendizado. “A pessoa do TEA, assim como a pessoa que não nasceu com nenhum distúrbio, tem problemas para lidar. São desafios diferentes para cada um. Alguns são mais sensíveis ao contato e ao toque, outros podem se incomodar mais com barulhos, outros podem ter dificuldades maiores para realizar alguma tarefa cotidiana ou cumprir as expectativas sociais. Mas a pessoa do TEA pode sim evoluir. O autista tem direitos, valores, talentos, desafios, medos e potenciais, tudo isso a seu próprio modo – o modo autista de ser”, enfatiza Renata.

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